sexta-feira, 13 de julho de 2007

Geobiologia Andina

“Eu não tenho certeza que o homem, originalmente, só tenha tido cinco sentidos. E o homem tem, talvez, dez ou quinze. Mas ele não sabe mais disso. Os homens que eu conheci, sim, sabem-no ainda.”
Manuel Scorza, escritor peruano falando sobre a gente "simples" dos andes.

A visão mágico-religiosa do mundo, concebida pela tradição andina, buscava respeitar, reverenciar e interagir com as forças do céu, da terra e da natureza, como os Apus (poderes das montanhas).

A arte de trabalhar as energias cosmo-telúricas, conhecida atualmente como geobiologia, é encontrada praticamente em todos os povos antigos: chineses, egípcios, hebreus, gregos, romanos, árabes, celtas; todos a conheciam e praticavam com diferentes nomes e nuances culturais. Na época dos incas, os amautas eram os artistas que buscavam o sagrado conhecimento do céu e da terra - yachay.

Os amautas (os “druidas andinos”) eram ao mesmo tempo sacerdotes, astrônomos, agrônomos, arquitetos e engenheiros; tinham conhecimentos de história, filosofia, medicina, geologia e geobiologia. Eles trabalhavam sua sensibilidade e aprimoravam seus sentidos ao ponto de detectarem fissuras nas rochas das pedreiras de onde retiravam os gigantescos blocos de suas construções ou encontrarem fontes de água subterrânea em regiões desérticas.

Eles buscavam utilizar esse conhecimento aplicando e potencializando determinados padrões energéticos benéficos ao desenvolvimento da vida; isso se refletia no vigor e saúde das plantações e das pessoas ao redor dos lugares de poder, as Huacas. Ainda hoje, o milho que cresce no Vale Sagrado é único pelo seu tamanho, diversidade, qualidade e sabor.

O sucesso agrícola incaico, associado às reações emocionais e internas do ser humano junto às Huacas, atestam a eficácia do trabalho geobiológico realizado pelos antigos na região andina.

É por isso que tanto se diz que em Machu Picchu a pessoa é envolta em uma agradável sensação de paz e reconforto. Machu Picchu e muitas outras obras do povo andino foram planejadas para interagir com as energias do céu e da terra. Muitas construções estão alinhadas com os astros, poderes do céu, e localizadas em lugares especiais da Terra, seguem padrões harmônicos, produzindo, ainda hoje, efeitos notáveis.

Trata-se de um conhecimento que pode ser estudado e aplicado ainda hoje, não apenas na região da Cordilheira dos Andes e nem somente pelos antigos amautas, mas em nossas habitações e lugares de trabalho e por pessoas que aprimorem capacidades e sentidos latentes em todos os seres humanos.

Ka W Ribas

quarta-feira, 11 de julho de 2007

O Conhecimento Ancestral


Muito temos a aprender com o conhecimento ancestral dos antigos americanos e sua cultura, ainda viva e vigorosa em muitos lugares e países de todo continente. Em alguns locais, a herança indígena se diluiu ou misturou-se de tal forma com outras culturas que se apresenta quase que imperceptível. Já em outras regiões, a tradição nativa permaneceu bastante forte e palpável, como no caso da extensa região da cordilheira dos Andes.

Dentre esses ensinamentos encontra-se o profundo respeito e reverência com que esses povos tratavam a todas as manifestações e formas de vida. Os antigos enxergavam na natureza o sagrado e dessa forma estruturaram e organizaram seu universo. Eles estabeleceram uma ética ecológica que a civilização industrial moderna parece desconhecer quando agride e despreza a mãe-Terra. Recuperar das culturas ancestrais essa ética e valores seriam de grande benefício para todos nós e para o planeta.

Todos os elementos do mundo indígena se reconhecem e se baseiam nestes valores e princípios, encontrando-se interligados através de uma visão holística que privilegia a unidade, a interdependência e a interdisciplinidade.

A milenar tradição andina, através de sua última e grandiosa civilização anterior à chegada dos europeus, os Incas, estruturou seu universo e desenvolveu-se mantendo o vínculo com a natureza e a ética ecológica.

A genialidade do homem andino possibilitou um modelo de civilização onde o controle de técnicas agrícolas era associado a conhecimentos astronômicos e ao respeito pela natureza, Pachamama. O império inca, chamado de Tawantinsuyo (quatro cantos do mundo) possui o mérito de ter erradicado a fome dentro dos limites de seu vasto território, composto de áreas dos atuais Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Chile e Argentina.

Para isso, utilizaram antiqüíssimos padrões e técnicas, aplicando-os em um âmbito geográfico considerável. O império dispunha para seu uso e distribuição de uma enorme variedade e quantidade de produtos: desde a costa do pacífico, passando pela cordilheira, até os Andes Amazônicos.

Os incas fomentaram e puseram em prática uma infinidade de recursos agrícolas para intensificar a produção de alimentos e assim fazer frente à crescente demanda, desmedida em função da limitação de terras cultiváveis em contraste com a extensão territorial do império.

Precisamente a natureza, exígua em matéria de terras de cultivo, gerou uma crise alimentícia permanente que somado ao aumento populacional levou ao desenvolvimento cultural dos povos andinos e explicam sua fisionomia tanto material como institucional. Assim moldaram sua forma de administração e organizaram seu universo mágico-religioso, onde suas divindades principais eram deuses ligados ao sustento.

Para obter o máximo da produção agrícola, fundamental foi conhecer os delicados ciclos da natureza andina, identificar as estações e estabelecer um preciso calendário relacionado à agricultura, observando as estrelas, o Sol e a Lua.

E nesse campo, os astrônomos andinos aprofundaram bastante seu conhecimento compondo, junto à arquitetura, impressionantes espaços rituais, cujas construções estavam alinhadas astronomicamente e marcavam solstícios e equinócios.

Através da arqueoastronomia (o estudo dos vestígios arqueológicos e sua relação com a astronomia) podemos perceber o alcance deste conhecimento, sua relação com a cultura, a religião e sua importância na manutenção de um gigantesco império agrícola.

Também com finalidade de ampliar e melhorar a produção agrícola, mas indo além disso, os incas praticaram a geobiologia, arte milenar de trabalhar as energias do céu e da terra.

Oferendas e rituais realizadas em determinadas datas, nos lugares de forte energia cosmo-telúrica (chamados de huacas pelos Incas), afetariam o padrão energético das plantações ao redor, além de causar outros efeitos aos seres vivos, inclusive ao homem.

É por isso que tanto se diz que em Machu Picchu a pessoa é envolta em uma agradável sensação de paz e reconforto. Machu Picchu e muitas outras obras do povo andino foram planejadas para interagir com as energias do céu e da terra. Muitas construções estão alinhadas com os astros, poderes do céu, e localizadas em lugares especiais da Terra, seguem padrões harmônicos e produzem, ainda hoje, efeitos notáveis.

Ka W Ribas